autoria, edição e produção de Augusto Moura Brito

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Jul 11

A fábrica da loiça de Sacavém, representou para a freguesia e localidades limítrofes, um papel sócio-económico, cultural e recreativo de grande importância e relevo.

A fábrica, enquanto unidade de produção de loiça e empregando um elevado número de pessoas, ao mesmo tempo que proporcionava aos seus trabalhadores um salário, desenvolveu em simultaneidade espaços de socialização, onde em paralelo com a música e o teatro, se fomentaram também as classes de ginástica e o futebol – praticados num recinto onde hoje está edificada parte da urbanização da quinta do património.

Era um regalo ver e serem vistas, aquelas raparigas e rapazes a praticarem aquelas actividades – comentavam os mais idosos. Se em algumas casas a pobreza era a companhia, facilmente eram esquecidas pela alegria e satisfação que estas modalidades proporcionavam.

Transversalmente, a fábrica foi suscitando na vida comunitária, outras referências ocupacionais materializadas em associações, como por exemplo: a Cooperativa “A Sacavenense”, o Sport Grupo Sacavenense e a Academia Recreativa Musical de Sacavém que contribuíram para a formação humana e caracterização da freguesia e que fazem hoje parte integrante do imaginário colectivo. Estas associações, eram autênticos pólos de lazer e formação cívica que ajudavam a remediar a miséria e a fome que em muitos períodos ocorriam nas casas de muitos.

Não obstante este desiderato figurativo e tipológico de uma população migrante oriunda do interior norte e sul de zonas do nosso país, ajuda-nos a compreender a gramática sociológica da região da cidade de Sacavém, mas até então… nem correspondida e continuada!

O epíteto – “Sacavém é outra loiça” que tanto caracterizou a fábrica e os seus trabalhadores e que felizmente ainda podemos ver em algumas fachadas em velhos edifícios – recordo este painel na imagem, situado em Oliveira do Hospital – é sintomático da importância económica que a unidade fabril representou para os locais, para Sacavém e Portugal. Muito ainda está visível e poderia, apoiado nas novas tecnologias, fazer parte integrante de um suporte media colocado no museu da cerâmica ou num outro local da cidade. Falta concluir muito e de grande significado para perpetuar a memória dos trabalhadores e da gramática decorativa e pictórica existente na fábrica da loiça.

Quanto aos pólos de artesanato que vimos defendendo nas áreas do barro e da cerâmica, continuam a ser uma miragem e um desafio sem início à vista. Mais um potencial do saber e do conhecimento humano se vai esvaziando – refiro-me aos saberes dos antigos trabalhadores da fábrica - e vemos esquecido ou maltratado. O seu saber-fazer é muito e de grande qualidade, não pode ser por isso ultrajado e colocado apenas em DVD, mas reinterpretado, avaliado e mostrado, se calhar, contribuir para um fácies de sustentabilidade económica da cidade e, ajudar a minorar os índices de desemprego na região.

 

Augusto Moura Brito

    julho 2011

                             

publicado por sacavem-actual às 13:54

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