autoria, edição e produção de Augusto Moura Brito

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Fev 17

Ocupação espacial e vivências…

Estamos perfeitamente conscientes de que o fenómeno de sociabilidade destes povos foi sempre ditado por necessidades de sobrevivência… A especificidade de um certo modo de ocupação do espaço, a originalidade de um tipo de habitat cuja longa sobrevivência não pode explicar-se senão pelo caráter estacionário da organização social e da vida económica, transportam-nos para uma abordagem onde se procura fazer a evolução das formas de ocupação e de convivência espacial.
Se estas questões constituem um fator determinado pelo tempo ou pela necessidade de adequação a uma nova realidade, estamos sobretudo a pensar nesta última, porquanto a investida dos romanos durante as campanhas de Décimo Júnio Bruto exigiu que houvesse uma necessidade de levar à consecução uma adequada e mais eficiente “plataforma” dos aspetos defensivos, através do uso generalizado da pedra na construção das casas - até aqui eram fabricadas usando só os materiais vegetais – como também na adoção do torno de oleiro pois a única e principal modo de vida até então era a atividade pastoril, principalmente cabras, ovelhas, bois e porcos e, em especial, os cavalos. Praticavam a caça e a pesca. Há fontes que afirmam que os Lusitanos utilizavam o arado, cultivavam o trigo, o linho, de que teciam couraças, referido por Estrabão na sua Geografia, a vinha e a oliveira, sendo famosas, pela sua doçura, as suas azeitonas secas e alguns frutos, como as cerejas.
A atividade militar neste território levou indubitavelmente à alteração do “modus vivendi” e “modus faciendi” desta população pelo que a edificação de castros no cimo das elevações ou no meio de dois cursos de água obrigou estas tribos a ter um “modus operandi” diferente e mais adequado ao contexto de investidas permanentes, muito da feição de Viriato. Determinado por este desiderato as plantas, as dimensões e a articulação das casas demonstram um caráter lato da unidade familiar, constituída pelo agregado de famílias simples ou nucleares descendentes do mesmo tronco e residentes no mesmo espaço, por vezes murado e com pátio que servia a todos para o desempenho de pequenas atividades agro-pastoris. Não se conhece na área dos castros nenhuma praça pública, centro cívico ou templo revelando por isso uma simplicidade de organização social.
Ainda quanto à construção das casas e muralhas usavam, para cortar a pedra, os picos e cunhas. No fabrico de armamento ofensivo incluem-se as espadas e punhais geralmente afalcatados1, as pontas de lança e ponteiras ou chuços. Como armas defensivas temos os capacetes, os escudos redondos e pequenos (caetra).
Muito pouco se sabe sobre a prática de cultos religiosos. Porém, podemos adiantar que eles se resumiam à divinização de elementos celestes e das águas, fontes, rios, montes, rochedos e outros seres e forças da natureza. Os teónimos mais vulgares são de culto local, como: Banda, Cosus, Nabia e Reva. O culto dos mortos restringia-se à realização de ritos de incineração depositando posteriormente as cinzas no interior das habitações em pequenas fossas de planta circular com paramentos de alvenaria ou em recintos próprios no exterior da casa, mas dentro do núcleo familiar. O funeral de Viriato datado de 139 a. C., descrito por Diodoro Sículo e Apiano são a confirmação dessa prática corrente: "O cadáver, magnificamente vestido, foi queimado numa pira, onde sacrificaram numerosas vítimas, enquanto os soldados corriam em volta, formados, empunhando armas e cantando, à maneira bárbara, as suas glórias em honra do herói. Por fim, duzentos pares de guerreiros efetuaram simulacros de combates e não abandonaram o local enquanto o fogo se não extinguiu por completo”.

 

1 Recolhidos em bolsas de vegetais (numa fase inicia) ou em peles de animais (fase posterior).


Augusto Moura Brito
    17-02-2017

 

publicado por sacavem-actual às 10:19

16
Fev 17

É comum aceitar-se o etnónimo Lusitanos como o conjunto de diversas tribos instaladas na zona de entre o Douro e Tejo, limitada a ocidente pelo Caramulo e o Buçaco, integrando a serra da Estrela e a Beira Baixa. Quando os romanos no século II a. C invadiram esta parte do que é hoje o território português, estavam aí - conforme é referido numa inscrição e corroborado por Plínio - instalados diversos povos: os Igeditanos (Igaeditani), os Taporos (Tapori), os Celarnos ou Colarnos (Coilarni), os Lancienses Transcudanos (Lancienses opidanos), os Meidubrigenses (Meidubrigensis), os Aravi, os Arabrigenses, os Pésures e outros ainda possivelmente.
Sabemos da existência destas tribos porque são referidos numa inscrição (CIL II 760) onde se afirma que foi com os impostos pagos por estes povos (populi) que se construiu a ponte romana de Alcântara que ligava Norba(Cáceres) a Conímbriga. Esta ponte foi mandada construir no ano 106 em honra ao imperador Trajano, nascido na Hispânia e a responsabilidade pela construção, o engenheiro Caio Júlio Lacer (cristianizado na Idade Média com o nome de São Julião). A questão da organização territorial e estratégia militar continuava a ser uma pretensão dos romanos para possibilitar a continuidade da política de integração dos povos dominados, daí terem atribuído o nome de Lusitânia (Lusitani) a esta nova unidade geo-política.
A origem dos Lusitanos ainda hoje não está totalmente esclarecida. Embora não fique afastada a hipótese de serem considerados povos iberos ou mesmo lígures, as últimas escavações em castros lusitanos e a análise de alguns elementos idiossincráticos como a religião, a onomástica e alguns topónimos, fornecem-nos indícios de que se trata de um povo celta. É assim que vamos considera-los, quiçá, influenciados por Diodoro Sículo, historiador e autor da sua única obra a “Biblioteca Histórica” escrita durante o século I a. C. Porém, temos conhecimento que Artemidoro de Éfeso do século II/I a. C. (na sua obra “Geografia Geral" apelidou os Lusitanos de Belitanos (mapa da esquerda) e Estrabão (mapa da direita) do

Mapa da Europa segundo Estrabão.jpg

Papiro de Artemidoro segundo Kramer.jpg

 

século I a. C. (na sua obra “Geografia”) considerou Viriato como líder dos celtiberos. Por último, referimos o contributo de Rúfio Avieno do século IV ter-nos deixado na sua obra “Olra Marítima” onde faz uma descrição geográfica das costas europeias - desde a atual França até à Península Ibérica - e onde  pela primeira vez  aparece o termo  Lusis ou Lysis, chamando-os de “pernix” que significa ágil e rápido.
Sendo Viriato e Sertório - general romano que assumiu o comando dos Lusitanos após o assassinato de Viriato - as personagens com mais notoriedade dos Lusitanos, outros terão existido, como: Punicus, Cæsarus, Caucenus, Curius, Apuleius, Connoba e Tantalus.

...vai continuar!

 

 Augusto Moura Brito
     16-02-2017

publicado por sacavem-actual às 12:15

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