autoria, edição e produção de Augusto Moura Brito

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Mar 17

Do Dicionário da História de Portugal retirámos esta descrição realizada por Estrabão:

Armas
Segundo a descrição de Estrabão os lusitanos usavam a “Caetra” – pequeno escudo redondo de 2 pés de diâmetro, côncavo na face exterior, que era sustentado por correias, sem braçadeiras nem asa para a mão e cuja finalidade essencial não era cobrir todo o peito, mas intercetar os dardos e setas atirados pelo inimigo.
Usavam também o punhal ou sabre e a espada, o dardo ou lança de arremesso, todo de ferro ou apenas metade e a lança ponta de bronze para a estocada. Protegiam o corpo com uma couraça feita de um tecido muito espesso de linho e a cabeça com um capacete metálico de três penachos, ou então de couro, e, para cobrirem as pernas, usavam grevas ou polainas, de couro ou de tecido.
Costumes e gastronomia
Sobre os costumes diz-nos que eles untavam o corpo; que usavam banhos de vapor, lançando água sobre pedras enrubescidas ao fogo, e tomavam em seguida o banho frio; que se alimentavam apenas uma vez ao dia, com uma comida simples, mas naturalmente abundante. Bebiam apenas água ou também, por vezes, uma bebida fermentada, espécie de cerveja “caelia” e raras vezes o vinho; que faziam de bolota seca, pisada e moída, um pão de que se alimentavam durante duas terças partes do ano; que, em vez de azeite, usavam manteiga; que o sal era vermelho, mas depois de triturado ficava branco, naturalmente sal-gema; e, finalmente, que a comida era passada de mão em mão aos comensais, sentados em roda, em bancos de pedra, dando-se a primazia às pessoas de mais idade ou de maior categoria, e serviam-se de vasilhas de madeira, “à maneira dos celtas” como também das de barro.
Continua a descrição e diz-nos ainda que estes povos praticavam sacrifícios humanos e, quando o sacerdote feria o prisioneiro de guerra com um golpe no ventre, faziam seus vaticínios, conforme o modo como a vítima caía por terra; depois examinavam a palpitação das tripas sem as arrancarem e apalpavam as veias do peito, tirando desse exame seus augúrios. Aos cativos cortavam as mãos, oferecendo aos seus deuses as direitas. Sacrificavam a Ares, deus da guerra, não só os prisioneiros, como igualmente cavalos e bodes, e praticavam hecatombes, como fizeram, por exemplo nos funerais de Viriato, segundo a descrição de Apiano.
Dormiam no chão, sobre palha e apenas cobertos com o sagum, que era o manto ibérico, de lã; o vestuário dos homens era escuro, o das mulheres com bordados policromos; usavam, como as mulheres, os cabelos compridos, que, durante o combate, prendiam com uma faixa atada sobre a fronte; em lugar da moeda utilizavam pequenos pedaços de prata cortados a cinzel, ou procediam à troca de mercadorias.
Praticavam exercícios ginásticos, como o pugilato e corridas, bem como simulacros de combate, a pé ou a cavalo; gostavam de bailar em danças de roda, homens e mulheres de mãos dadas, ao som de flautas e cornetas, e davam saltos, caindo sobre os joelhos dobrados; cada qual tinha apenas uma só mulher. Colocavam os enfermos à margem dos caminhos, para que eles pudessem consultar os transeuntes que por acaso tivessem já sofrido da mesma doença.
Usavam barcos feitos de couro ou monóxilos, de um tronco de árvore; porém, tais barcos eram já raros… Os condenados à morte eram arrojados do alto dos rochedos aos precipícios e os parricidas eram apedrejados e expulsos dos limites do território. Estrabão termina a sua narrativa afirmando que a falta de cultura e o selvagismo destes bárbaros montanheses, tanto lusitanos, como calaicos, ástures, cântabros e vascónios, eram devidos aos seus hábitos e também ao facto de a sua vida decorrer em lugares afastados, onde era difícil chegar.

In, SERRÃO, Joel direção (1975). Dicionário da História de Portugal. Porto: Iniciativas Editoriais.

 

Augusto Moura Brito

     17/03/2017

 

publicado por sacavem-actual às 22:49

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