Foi com estupefação que li na última edição (março/abril 2017, na página 7) do jornal Garganta de Loriga o artigo com o título - Bolo negro. A origem?
Sempre refugiado na interrogação metódica, vai terminar com a sua convicção: O Charroset é o antepassado do Bolo Negro de Loriga?
A origem do Bolo Negro de Loriga, desconheço-a, talvez por isso nunca esteve nas minhas cogitações narrativas nem tão pouco tecer qualquer comentário nem abonatório, nem de refutação ou nem mesmo de orientação histórica da sua origem. Qualquer comentário alternativo ou mesmo ponto de vista sobre a sua origem que se alinhave - penso que não passou disso mesmo - o seu autor refere mesmo “… vamos tentar descobrir a sua origem…” ou elaborar qualquer tese, exige uma investigação cuidada, como por exemplo tomar contato com as fontes sejam orais ou escritas e, só muito depois deste trabalho demorado e racional, é que se avança.
O autor quando inicia a sua narrativa e pretende associar a presença do Bolo Negro a um ato singular como o de o encontrar e fazer a sua presença obrigatória nas bandejas no período pascal, é reduzir e minimizar o seu significado e importância. O Bolo Negro sempre foi o bolo que se apresentou às amigas e aos amigos em muitos momentos de festa, como sejam nesses em que descreve ou, em aniversários, batizados e em casamentos onde nunca faltou. Recordo-me muito bem quando criança a minha mãe e outras mães e, sempre em momentos festivos, levarem todos os preparativos para o forno, por sinal o único que ainda persiste em Loriga - próximo do largo do pelourinho - e aí, colocá-lo juntamente com a broa. Era com júbilo e muita satisfação que todos assistiam à sua saída da boca do forno.
Transferir e estabelecer uma ligação do Bolo Negro às comunidades Sefarditas, confesso que nunca tinha ouvido tal tese, nem lido e verificado em nenhum texto, duvido mesmo que essas comunidades ainda bem vincadas em Belmonte, tenham conhecimento do que é um Bolo Negro; vislumbrar no ritual da Páscoa judaica e na nova simbologia dos rituais marranos sem a apresentação de documentos, é conferir um atestado de nulidade à investigação científica que se vai realizando.
Loriga, salvo ainda poder surgir em qualquer documentação que me tenha escapado, nunca vi qualquer referência e ligação de Loriga às comunidades judaicas. Se houve, onde se encontram as fontes?
Para terminar pergunto! Onde está a documentação em que possamos analisar e convictamente afirmar que o Charroset é o antepassado do Bolo Negro de Loriga? É importante disponibilizar as fontes!…
Não alinhamos em suposições!
Confundir não será certamente o nosso lema!
A verdade histórica é a nossa metodologia!
Loriga… merece-nos MUITO!
Augusto Moura Brito
14/05/2017