autoria, edição e produção de Augusto Moura Brito

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Abr 20

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A capela de Sto. António era maior em dimensões do que a capela de Nossa Senhora do Carmo - pequeníssima e com um oratório que não comportava um cento de pessoas - e tinha na frente um alpendre que comportava tanta gente como a própria capela.                                                       

Descrição do Pe. António Lages

 

Ainda não conseguimos precisar a data exata da construção primitiva da capela de Sto. António – havemos de lá chegar - mas o que podemos dizer e baseado em pesquisas realizadas em escritos nas atas da Irmandade das Almas de Loriga, no jornal “Echos de Loriga” de Belém do Pará, na ata da Junta da Paróquia de Loriga, cujo Presidente era o Monsenhor António Mendes Gouveia Cabral e nos textos do Pe. António Lages, a capela de Sto. António, tem uma bela, mas conturbada história para contar.

Nas atas da Irmandade de 15/04/1883 a 15/05/1884 está escrito no exórdio, cito: “… do dito anno na capella de santo António, servindo de Egreja Parochial d´esta freguesia de Loriga se procedeu…”

No jornal “Echos de Loriga” publicado em 28 outubro de 1906 em Belém do Pará, na página 3, cito:

“…Ahi tendes aos vossos olhares a capela de santo António, que se não fora o orgulho de alguém, já podia estar reconstruída, graças aos esforços dos mordomos de 1905 e a boa vontade do povo em geral que acolheu a ideia de abraços abertos. E o que aconteceu quando eles já estavão da pose de uma boa quantia de dinheiro. Foi a ideia ficar em pantanas, e devolverem o dinheiro a quem o tinha dado bem contra gosto de alguns senhores, porque os mordomos viam que em vez de estarem trabalhando para o fim almejado, dava-o o contrário. Actualmente não há quem queira servir as diferentes confrarias, porque, em vez dos mordomos para zelar pelos interesses para que são nomeados, servem sim, mas é de criados da Junta. Bem fizeram os mordomos da N.S. da Guia, no corrente anno, que entregarão a mordomia à senhora Junta”.

Na ata da Junta da Paróquia de 20/01/1909[1] o seu Presidente, o Monsenhor propôs e José Fernandes Carreira[2] escreveu, cito:

“… que como a junta sabe existem nesta freguesia duas capellas, uma sob a invocação de Nossa Senhora do Carmo e outra de Santo António achando-se esta situada no cemitério antigo. Que as referidas capellas ameaçam ruína e necessitam de ser reconstruídas ou pelo menos de grandes reparações para continuarem a poder ser frequentadas pelos fiéis. Que presentemente não há meios para de promto se fazerem essas obras. Que nestas circonstancias lhe parecia ser de conveniencia e até de necessidade remover as imagens existentes nas referidas capellas para a egreja parochial com a decencia devida até que as referidas capellas sejam reedificadas ou compostas depois do que no seu intender as imagens devem novamente ser colocadas nellas e convidou a junta a deliberar o que lhe parecesse conveniente sobre estes assumptos. A Junta tomando na devida consideração e exposto e apreciando devidamente a proposta de senhor Presidente resolveu approvar a proposta do senhor Presidente deliberando por unanimidade que as imagens de Nossa Senhora do Carmo e de Santo António fossem removidas para a egreja parochial com a decencia devida e alli se conservassem até que as respectivas capellas[3]fossem reconstruídas ou reparadas devidamente”;

O Pe. António Lages escreve no arrolamento realizado em 15/01/1912[4], transcrito nos seus textos de 1951, cito:

 “…como tendo somente as paredes construídas e que a primitiva tinha sido substituída porque ameaçava ruir e não foi reedificada segundo o estilo primitivo”;

E por último, ainda do Pe. António Lages, já na qualidade de pároco da freguesia de Loriga - iniciou em julho de 1910 – escreveu, que a capela só foi restituída ao culto no ano de 1923, mas logo interdita pelo Prelado em 06/06/1925, interdição que durou até princípios de maio de 1927.

Esta narrativa é o resultado de uma investigação cuidada e intensa, realizada ao longo de anos. Acaso ocorram novas descobertas cá estaremos novamente para atualizar o seu conhecimento.   

Perante estes dados e circunstancialismos, podemos concluir o seguinte:

  1. Que a estrutura, que a capela apresentava quando da autorização do Bispo da Guarda - ofício de 19/06/1974 - era aquela que estava a ser reconstruída e descrita no arrolamento de 1912, e não a primitiva;
  2. Que à estrutura primitiva, entre os anos de 1884 e 1912, tenha ocorrido algum constrangimento destrutivo e, por isso, é descrita no arrolamento de 1912, como estando a ser reedificada, mas não seguindo o estilo primitivo;
  3. Que em 1905 a mordomia e o povo tentaram, mas em vão, a sua reconstrução;
  4. Que as obras na capela de Sto. António se iniciaram depois do ano de 1909, após terem sido levadas as imagens para a igreja matriz;
  5. Que na reconstrução levada a efeito entre os anos de 1909 e 1923, foram utilizados os materiais de forma clássica, sobretudo os acrotérios[5] e o pequeno frontão triangular que encima o lintel da porta principal;
  6. Que a construção primitiva possa ter ocorrido na 2.ª metade do século XVI ou na 2.ª metade do século XVIII, devido aos elementos arquitetónicos que chegaram até nós e, se apresentam hoje, “pouco cuidados”.

 

Não vamos desistir, resta-nos continuar a trabalhar até conseguirmos a data e o estilo da sua primitiva construção, mas chegou-me aos ouvidos[6], que ela era semelhante à capela de S. João[7] em Valezim. Uma curiosidade: a capela de Sto. António também tinha um alpendre, onde alguns agricultores moradores na Carvalha joeiravam e secavam o milho ou centeio quando o tempo estava de menor feição.

Para compreendermos melhor o que aconteceu à capela de Sto. António, o melhor será ater-nos na data da demolição definitiva no ano de 1974. Vamos verificar o que as atas da JFL nos dizem, mas antes disso, começo por afirmar de que a questão da capela de Sto. António, é um assunto que assume contornos envoltos de alguma perplexidade e hoje ainda carecem de explicação.

Porém, todos sabemos que a necessidade de requalificar o espaço onde estava implantada, era passível de maior ponderação e bom senso, pois sempre seria salva a palavra dada ao senhor Bispo!

A negridão que se seguiu posteriormente, atormentou muita gente boa! Hoje, o que resta é um “nicho” que o Bispo da Guarda não desejava e o nome de Largo Sto. António, onde esteve implantada a capela primitiva, os únicos a persistirem continuadamente.

Augusto Moura Brito

13-04-2020

[1] O Presidente da Paróquia era o Monsenhor António Mendes Gouveia Cabral.

[2] Meu tio bisavô, pai de António Fernandes Carreira e, claro, irmão do meu bisavô, Manuel Fernandes Carreira.

[3] O terramoto que assolou Loriga no ano de 1881 causou estragos na igreja matriz, mas só viria a desabar em 31/10/1882. É muito provável que tenha deixado marcas destrutivas nas capelas de Nossa Senhora do Carmo e Sto. António porque no ano de 1909 ameaçavam ruir.

[4] Foi feito em 15/01/1912 pelo Pe. António Mendes Cabral Lages sob exigência do Presidente da CMS, o bacharel António Borges Pires, o aspirante de finanças Amandio Rodrigues Frade e o cidadão António Cabral vogal da Junta da Paróquia de Loriga e indicado para a Comissão.

[5] Quer os acrotérios, quer o frontão triangular, são elementos escultóricos tipicamente clássicos. Será que os acrotérios e o frontão triangular, por serem elementos/formas tipicamente clássicas e nela existentes, apontam o início da construção primitiva? O classicismo do século XVI (sobretudo na 2.ª metade) e o neoclassicismo, da 2.ª metade do século XVIII, podem ser a sua matriz construtiva original.

[6] Por ser uma fonte oral, continuamos a ter dúvidas! Vamos continuar… é um imperativo.

[7]A Capela de São João, tem uma planta retangular, com um alpendre sustentado por quatro colunas cilíndricas, que assentam numa base quadrangular e terminam em capitel. No seu interior é visível um único altar com um pequeno retábulo pintado a dourado.

 

 

publicado por sacavem-actual às 09:46

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